Professor da UFS publica artigo na Science sobre 'morte' do Velho Chico
Marcelo Fulgêncio, do DBI, escreveu ao lado de André Barroso Magalhães, da UFSJ
Essa conclusão é o foco principal do artigo publicado na Science (edição de 13 de outubro) pelo professor Marcelo Fulgêncio Guedes, do Departamento de Biologia (DBI) do campus de São Cristóvão, em parceria com o professor André Lincoln Barroso Magalhães, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). A Science é um das mais prestigiadas publicações de divulgação científica do mundo. Leia aqui o artigo (em inglês).
Marcelo Fulgêncio conhece de perto a realidade dessas comunidades e do rio, uma vez que trabalha em projetos de pesquisa voltados à preservação do Velho Chico desde 2012.
O artigo, publicado sob o título “Brazil’s development turns river into sea” (O desenvolvimento do Brasil transforma um rio em mar, em tradução livre), é uma maneira de expor para o mundo um problema sério e grave.
“Deixamos de falar para interlocutores locais para mostrar o problema para o mundo. Publicar na Science é realizar um trabalho para o mundo inteiro, diferente de outros que têm veiculação menor. É como colocamos no título: o progresso está fazendo com que o rio vire mar”, conta.
A transformação
O rio virando mar é consequência de uma série de fatores, sendo um dos principais a construção de barreiras hidrelétrica, como afirma Marcelo. “O trecho final tem uma sequência de barragens que trava e controla o fluxo de águas, fazendo o rio perder força em função da redução do fluxo. O mar vem avançando e o rio vai perdendo sua força”.
Isso traz uma série de fenômenos que atingem diretamente as populações que sobrevivem das atividades providas pelo rio: peixes comerciais nativos começam a desaparecer e a água, antes consumível, se torna salobra e inadequada para a ingestão.
“É possível notar casos de pessoas jovens com hipertensão, por exemplo, o que é incomum; isso é consequência da salubridade da água. Há também o problema da extinção de espécies de peixes que são responsáveis pela subsistência das famílias”, diz Marcelo.
“O que nós pedimos é que os órgãos governamentais e as ONGs associados à conservação do rio juntem esforços para tentar fazer com que o São Francisco volte a ser uma fonte de vida e de riqueza para a população”.
Ainda segundo o professor Marcelo, o rio é como um sistema humano. “Um rio é como se fosse uma rede de vasos sanguíneos: se você está com um problema sanguíneo, não adianta tratar em um lugar só, tem que ver onde está o problema todo”, afirma. “Temos que enxergar a bacia hidrográfica como uma unidade, tratar dela toda da mesma forma”.
Para pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa, Lucindo Quintans, expor esse problema em um periódico tão notável é uma conquista que deve ser comemorada. “A publicação é muito relevante pelo destaque que a Science tem no mundo científico, sendo importante ressaltar dois grandes méritos do artigo: o primeiro é o fato de expor o gravíssimo estado de destruição que se encontra o rio São Francisco e a própria inabilidade do governo em gerir isso, e o segundo é, em parte, divulgar a ciência e a tecnologia que são desenvolvidos no nosso estado, especialmente na UFS”.
(Da Ascom/UFS)