Eu preciso de água para viver!

Escrito por Ana Cláudia Monteiro Publicado . Publicado em Artigos

A água é o meio essencial à subsistência. Seu valor é intangível, não se negocia! Estamos tratando de manutenção da vida e, assim, necessária a todos. O Capitalismo não enxerga a universalização do abastecimento de água como um conceito fundamental, mas como lucro. 

Lucrar com saneamento significa preterir os menos favorecidos economicamente, uma vez que os custos de captação, tratamento, distribuição, coleta após o uso e preparação para o retorno ao meio natural, além da manutenção dos sistemas, é uma cadeia de custo elevado.

Evidente que se imagina que o investimento do setor privado é mais farto e os serviços mais eficientes. Entretanto, todo investimento privado é, na verdade, um financiamento e quem paga por isso é o consumidor. Imagine investimentos na ordem de milhões de reais em cada obra, acrescidos do lucro fundamental da empresa privada... A taxa de água e os serviços seriam exorbitantes!

Se fizermos uma leitura dos últimos 20 anos da nossa doce, pacata e agradável Aracaju, temos argumentos para sustentar a luta pela manutenção da DESO como patrimônio da sociedade sergipana. Vejamos: entregaram os manguezais para a construção civil. Quem reside nos prédios suntuosos? Aqueles que podem pagar por isso.

Entretanto, quem sofre com o aumento da violência, devido ao supercrescimento populacional? Quem sofre com o trânsito caótico que se tornou? Quem sofre com o calor e abafamento na cidade e com a falta das chuvas (porque aterrar nossos manguezais mudou a dinâmica climática, influenciou o ciclo da água)? Quem é beneficiado e quem sofre?

Respostas serão bem antagônicas. Os beneficiados pagam pelas moradias belas, contam com recursos tecnológicos para amenizar o calor. Mas o impacto negativo vem para todos.

Agora respondam: onde estão os maiores e mais bem equipados hospitais? Quem tem acesso a estes? Ora, seria esse mesmo o destino do recurso elementar à manutenção da vida: a água. Os investimentos viriam? Certamente! Mas a destinação do consumo focaria nos que "podem pagar mais".

Concluo dizendo que a DESO é uma empresa suficientemente forte e deve ser mantida com o povo. Entretanto, as melhorias na prestação dos serviços devem ser acompanhadas mais de perto e exigidas por este mesmo povo. A sociedade precisa despertar para essa realidade.

A água não é um bem capital, mas um bem universal. Logo, se alguém se beneficia desse bem, o prejuízo é da população; se alguém faz uso clandestino, não é uma empresa que está sendo lesada, somos todos nós! Se há vazamento na rua (as gambiarras produzem desgaste maior nas redes, fragilizam sua estrutura e propiciam mais vazamentos e de maiores proporções), a água que está esvaindo não prejudica apenas a Companhia, mas a população, que em algum momento será privada desse recurso.

Então, como "donos", precisamos enxergar a DESO visando o seu crescimento, evitando desperdício, contribuindo para que seja, cada vez mais, a maior empresa do povo sergipano em nosso Estado. Governos passam, o povo não.

..............................................
Texto de Ana Cláudia Monteiro
Funcionária da DESO

Privatizar a DESO é atestar incapacidade governamental

Escrito por Idenilson de Albuquerque Publicado . Publicado em Artigos

Caro amigo, caríssima amiga, povo sergipano e aos que aqui residem, há muito tempo que o SINDISAN (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos do Estado de Sergipe), que é o representante legal dos trabalhadores da DESO (Companhia de Saneamento de Sergipe), denuncia o desejo dos governantes em privatizar nossa empresa, digo nossa por ser um patrimônio dos sergipanos, nos quais estou incluso. Eu, particularmente, tenho um carinho especial por essa empresa, pois trabalhei por 9 anos na mesma (2005-2013).

Infelizmente, em 09/11/2016, a imprensa nacional e local divulgou que Sergipe está entre os 18 estados brasileiros que aderiram ao programa de privatização de saneamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento), esse banco também confirmou a informação e que através do seu superintendente da área de desestatização, Rodolfo Torres, afirmou que a privatização pode ser adotada em vários modelos, como a chamada PPP (Parceria Público Privada) ou subconcessão.

Seja uma privatização parcial ou, pior ainda, se for total, é fato que, toda empresa privada visa prioritariamente o lucro financeiro, enquanto a pública visa o bem-estar social; sendo assim, surge um questionamento: levar água tratada as comunidades pequenas como pequenos povoados, vilarejos, sítios e outros, para saciar a sede e cuidar da saúde da população, é prejuízo ou investimento? (para reflexão).

Caro leitor, caríssima leitora, nesse sentido entendemos que a empresa privada não tem interesse de investir em pequenas comunidades e/ou em comunidades carentes, pois não terão retorno financeiro; já a pública deve atender todas as comunidades, pois é dever do Estado garantir os direitos individuais dos seus cidadãos.

Se a DESO, que é muito útil aos sergipanos em seus 47 anos, servindo a 96% dos municípios e a mais de 600 povoados, vem passando por dificuldades, a culpa é da incapacidade dos seus gestores que, ao longo dos anos, usaram politicamente e não tecnicamente, nessa politicagem, atenderam a variados pedidos eleitoreiros e colocaram muitos gestores incapacitados por serem aliados políticos, quando colocaram a empresa em dificuldade financeira.

Aí os governos federal e estadual encontram logo a solução que é privatizá-la, ou seja, assumem que são incompetentes e incapazes de encontrar soluções viáveis para sanear as finanças da mesma, tornando-a competitiva e viabilizando-a sua permanência como grande colaboradora do Estado na área social, ao invés disso, preferem tornar um pesadelo para os sergipanos, principalmente aos seus colaboradores e familiares.

Caríssimo(a)s, já vimos acontecer a venda da ENERGIPE (Empresa Energética se Sergipe) e o dinheiro da mesma serviu à corrupção política, com várias denúncias de compras de apoios políticos.

Desejamos que isso não aconteça com a DESO e as outras empresas do governo de Sergipe, pois o que precisamos é de gestores competentes e comprometidos com a ética e com o bem-estar social da população, que possam tomar decisões corretas e eliminar a ingerência política; caso contrário, será um gestor incapaz.     

............................................
*Graduado em Matemática e História e Pós-graduado em Ensino e Pesquisa da Matemática, em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça e em Ciências Políticas.

O saneamento foi para o esgoto

Escrito por Roberto Malvezzi Publicado . Publicado em Artigos

Concluídas as eleições municipais – com a mídia saboreando a derrota do PT e a vitória do PSDB –, voltamos à política real. A aprovação da PEC 241 pelos deputados sofreu uma crítica profunda por parte do Conselho Permanente da CNBB. Pena que a nota demorou, mas ainda há tempo, já que vai tramitar pelo Senado agora como PEC 55.

Um dos itens que teve debate zero nessas eleições municipais, tão fundamental para cada município brasileiro, foi o saneamento básico. Nem os candidatos, nem a mídia, nem mesmo a Igreja soube colocar a temática em debate. E olhem que esse é o tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica desse ano.

A Arquidiocese do Rio de Janeiro, por exemplo, diante do posicionamento partidário de alguns padres, preferiu lançar uma nota falando de “aborto”, como se fossem os prefeitos que decidissem sobre o tema. Não apareceu na nota da Arquidiocese nenhuma referência a uma cidade com favelas, esgoto à céu aberto, poluição das praias e da Lagoa Rodrigo de Freitas.

É nessas ciladas midiáticas que caímos como patos. Falta até seguir aquele conselho básico de Jesus: “sejam mansos como pombas e astutos como cobras” (Mateus 10,16). Será que é mesmo ingenuidade, ou astúcia invertida?

A nota da CNBB é clara. Não é só a saúde e a educação que vão ficar sucateadas em alguns anos – para D. Murilo Krueger bastarão 4 anos para percebermos o desastre -, mas o saneamento básico também terá seu orçamento congelado.

Quando FHC era presidente, fez um acordo com o FMI e o Banco Mundial, proibindo o Brasil de investir em saneamento por dez anos, e com isso poupar dinheiro para bancar a dívida externa. Era a lógica de precarizar para privatizar. O resultado é que em dez anos nosso saneamento ficou nos mesmos níveis de Paris e Londres, só que em 1400. Isso, nosso saneamento foi classificado por uma agência internacional como medieval (O Globo, 10/09/2016).

Portanto, quem acha que o que aconteceu aí foi só tirar a Dilma e pôr o Temer, derrotar o PT e pôr o PSDB, daqui a alguns anos vai ver o resultado das decisões que estão acontecendo agora. Ainda vem aí a reforma da Previdência e a trabalhista.

O saneamento básico, literalmente, foi para o esgoto.

..........................................................
*Roberto Malvezzi (Gogó) é graduado em Estudos Sociais e em Filosofia pela Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras de Lorena, em São Paulo. Também é graduado em Teologia pelo Instituto Teológico de São Paulo.

Privatização da DESO - vale a pena?

Escrito por Super User Publicado . Publicado em Artigos

O sindicato que representa os funcionários da DESO “sabe das coisas” e já espalhou vários ”outdoors” pela cidade dizendo Não à Privatização. Sabe que há movimentos efetivos de gestão nesse sentido.

Seguindo exemplos de outras empresas coirmãs, o sindicato sabe que a DESO já iniciou procedimentos para sua privatização e, nos últimos anos, os governos construíram um bom caminho para essa efetivação com a duplicação da adutora do São Francisco e a regularização – através de barragem, do rio Poxim.

Essas duas obras, associadas a um efetivo controle de perdas, especialmente, na distribuição, permitirão abastecer a região metropolitana de Aracaju até o ano de 2030. A “fartura de água” sem que se necessite investimentos é um grande atrativo para o interesse de empresas privadas.

Ao contrário da empresa pública que objetiva o benefício social, a empresa privada visa em primeiro lugar o lucro financeiro e os nichos econômicos não explorados pelas gestões que administram a DESO, a exemplo de: permanente atualização do cadastro de consumidores, mudanças no sistema tarifário e o rígido controle das contas a receber, constituem-se alavancas que poderão dobrar o faturamento. Por outro lado, há grandes volumes de investimento sendo realizados pelo governo federal na coleta de esgotos, prevendo-se uma cobertura de 80% da população, e, esse novo oásis de faturamento, torna-se a “menina dos olhos' dessas empresas.

O maior entrave para a privatização está nos recursos humanos, cuja renovação do quadro somente se iniciou nos     últimos dez anos, e, hoje, ainda, a DESO possui 50% do seu quadro no regime de turno corrido, ou seja, com horário de trabalho das 7:00 à 13: horas, e que  representam 65% da folha, cujos salários foram conquistados ao longo dos anos, seja pelo Plano de Carreira, por incorporações ou outras conquistas aceitas em Acordo Coletivo.  

Por outro lado, por não ter havido, durante muitos anos, o preenchimento das vagas do quadro e a necessidade da evolução do número de empregados em função da ampliação operacional, fizeram grassar as horas extras sacrificando o caixa da empresa,

Para cobrir essa falha foram contratados cerca de 400 novos funcionários nos últimos dois anos, que, ainda, não sabem o que fazer, não têm treinamento e estão em sua maioria “batendo cabeça”, como se diz na gíria popular. A empresa, agora, está “inchada” e, nessa transição, criou-se um viés perigoso, pois, as horas extras continuam sacrificando o caixa da empresa, tudo como “d´antes”.

Não se fala em privatização total, mas, em PPP - Parceria Pública Privada, em nichos lucrativos avistados pelas empresas interessadas. À empresa privada não interessa o “osso”, que, certamente, ficará com o governo – a DESO opera nas sedes de 72 municípios e em mais de 600 povoados. Cria-se um paradoxo: com a privatização, a DESO terá que demitir para que a “parceira” possa compor seu próprio quadro de pessoal.

As decisões dos governantes, e aí, cada qual com sua parcela, pelas obras que permitem a “fartura de água” e pela renovação do quadro, são corretas. Entretanto, há um  problema de gestão, falta treinamento em massa, fato que a DESO terá muita dificuldade em realizar, pois, não dispõe de estrutura  nem de recursos financeiros.

Essa transição, sem foco no treinamento, alijou técnicos experientes que muito poderiam contribuir, visto que não há escola prática para as tarefas do dia a dia na área de saneamento e o aprendizado é sempre passado pelos mais experientes. O jargão que “os mais velhos não querem nada” não é verdade, todos poderiam contribuir se estivessem motivados. Mas, o que se observa são gestões descompromissadas, incapazes de enfrentar os problemas da empresa e de planejar o seu futuro.

Sob outra ótica, os novos funcionários, que constituem 50% da força de trabalho e representam somente 35% da folha, em nada mudarão o panorama, pois, situando-se no mesmo Plano de Carreira, dos “velhos”, em breve, conquistarão os mesmos benefícios, e, pior, representarão 100% da folha.

Ledo engano de quem, na tentativa de reduzir a folha com a introdução desses novos funcionários, melhorará a situação financeira caótica da DESO.

Digo Não à Privatização e Sim a uma Gestão Eficiente, como a de uma empresa privada, com visão no lucro, reduzindo despesas e aumentando as receitas sem perder o foco do benefício social. Para tal, é preciso ter a sabedoria, apoio que elimine a ingerência, competência na tomada de decisões. Perguntamos: os “novos” reúnem conhecimento para essa transformação?

Artigo publicado, originalmente, no Jornal da Cidade, do domingo (6) e segunda-feira (7) de dezembro.

Suécia ensaia a jornada de 6 horas de trabalho

Escrito por Redação - Outras Palavras Publicado . Publicado em Artigos

Símbolos, nos anos 1960 a 80, do Estado de Bem-Estar Social em sua versão mais igualitária, os países do Norte da Europa regrediram muito, neste século. A Suécia tem um governo conservador que colabora estreitamente com os EUA no esforço para manter Julian Assange encarcerado na minúscula embaixada do Equador em Londres. A Finlândia figurou, junto com a Alemanha, na linha de frente dos Estados que impuseram à Grécia, há meses, um recuo humilhante na negociação com seus credores. E, no entanto, algo da antiga tradição distributivista e anti-aristocrática resiste.

Um sinal são os crescentes acordos que estão reduzindo substancialmente, na Suécia, as jornadas de trabalho. Não se trata de mudanças cosméticas: as reduções do tempo laboral para 30 horas semanais (apenas 6 horas trabalhadas, de segunda a sexta) estão se tornando frequentes. Surpresa reveladora: em muitos casos, as empresas aceitam de bom grado a mudança. Ao fazê-lo, revelam na prática como são atrasadas as concepções segundo as quais é preciso “sacrificar-se” em tempos de crise.

Uma matéria publicada no Independent inglês explica a lógica. Tomando por base três empresas — uma transnacional da indústria com sede em Tóquio e planta em Estocolmo (Toyota), uma desenvolverdora de aplicativos para internet (Filimundus) e a adminstradora de uma casa de repouso para idosos (Svartedalens), o texto revela que as reduções de jornada estão se espalhando por todos os setores da economia sueca. As mudanças comportamentais decorrentes são notáveis e diversas. Mas uma conclusão geral se impõe: a ideia calvinista de que trabalhar mais horas resulta em maior bem-estar tornou-se, hoje, totalmente falsa.

Na Filimundus, inserida no setor emergente da Tecnologia de Informação, o próprio presidente, Linus Feldt, reconhece: “Queremos passar mais tempo com nossas famílias, aprender coisas novas ou nos exercitar mais. (…) Acho que a jornada de 8 horas não é tão efetiva quanto pensávamos”. A redução do tempo diário de trabalho, que foi adotada sem mexer nos salários, teve outro tipo de contrapartida. Recomendou-se, com sucesso (porém sem imposições), que os trabalhadores dispersassem menos tempo nas redes sociais. “Minha impressão é de que é mais fácil focar-se de modo mais intenso no trabalho se você sabe que terá energia quando sair da empresa”, diz Feldt.

Na filial sueca da Toyota, a jornada de 6 horas diárias já completou 13 anos. Os próprios administradores admitem que os trabalhadores estão mais felizes, há muito menos perdas com demissões e a empresa tornou-se capaz de atrair os jovens suecos mais habilidosos. O exemplo da Svartedalens com o cuidado de idosos parece igualmente notável. Ele já inspirou empreendimentos similares — um hospital ortopédico na Universidade de Gotemburgo e a enfermaria de dois hospitais no norte do país — a reduzir em duas horas o tempo diário de trabalho.

As experiências relatadas pelo Independent limitam-se às relações capitalistas. Em todos os casos, empresas cujo objetivo central é o lucro — e não a satisfação dos desejos humanos — ganharam, quando se afastaram da ortodoxia que comanda o sistema, onde ele é mais primitivo. Vale perguntar: até onde será possível chegar, se formos capazes de mudar de lógica, substituindo a expectativa banal do lucro pela busca, compartilhada e consciente, de novas formas de estar no mundo e transformá-lo?

(Da Redação do "Outras Palavras")