Eu preciso de água para viver!
Lucrar com saneamento significa preterir os menos favorecidos economicamente, uma vez que os custos de captação, tratamento, distribuição, coleta após o uso e preparação para o retorno ao meio natural, além da manutenção dos sistemas, é uma cadeia de custo elevado.
Evidente que se imagina que o investimento do setor privado é mais farto e os serviços mais eficientes. Entretanto, todo investimento privado é, na verdade, um financiamento e quem paga por isso é o consumidor. Imagine investimentos na ordem de milhões de reais em cada obra, acrescidos do lucro fundamental da empresa privada... A taxa de água e os serviços seriam exorbitantes!
Se fizermos uma leitura dos últimos 20 anos da nossa doce, pacata e agradável Aracaju, temos argumentos para sustentar a luta pela manutenção da DESO como patrimônio da sociedade sergipana. Vejamos: entregaram os manguezais para a construção civil. Quem reside nos prédios suntuosos? Aqueles que podem pagar por isso.
Entretanto, quem sofre com o aumento da violência, devido ao supercrescimento populacional? Quem sofre com o trânsito caótico que se tornou? Quem sofre com o calor e abafamento na cidade e com a falta das chuvas (porque aterrar nossos manguezais mudou a dinâmica climática, influenciou o ciclo da água)? Quem é beneficiado e quem sofre?
Respostas serão bem antagônicas. Os beneficiados pagam pelas moradias belas, contam com recursos tecnológicos para amenizar o calor. Mas o impacto negativo vem para todos.
Agora respondam: onde estão os maiores e mais bem equipados hospitais? Quem tem acesso a estes? Ora, seria esse mesmo o destino do recurso elementar à manutenção da vida: a água. Os investimentos viriam? Certamente! Mas a destinação do consumo focaria nos que "podem pagar mais".
Concluo dizendo que a DESO é uma empresa suficientemente forte e deve ser mantida com o povo. Entretanto, as melhorias na prestação dos serviços devem ser acompanhadas mais de perto e exigidas por este mesmo povo. A sociedade precisa despertar para essa realidade.
A água não é um bem capital, mas um bem universal. Logo, se alguém se beneficia desse bem, o prejuízo é da população; se alguém faz uso clandestino, não é uma empresa que está sendo lesada, somos todos nós! Se há vazamento na rua (as gambiarras produzem desgaste maior nas redes, fragilizam sua estrutura e propiciam mais vazamentos e de maiores proporções), a água que está esvaindo não prejudica apenas a Companhia, mas a população, que em algum momento será privada desse recurso.
Então, como "donos", precisamos enxergar a DESO visando o seu crescimento, evitando desperdício, contribuindo para que seja, cada vez mais, a maior empresa do povo sergipano em nosso Estado. Governos passam, o povo não.
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Texto de Ana Cláudia Monteiro
Funcionária da DESO